segunda-feira, agosto 21, 2006

JOGOS INDÍGENAS EM CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA- PARÁ





PARTE 1

A semana passada foi toda de preparativos, por parte dos organizadores, para a minha cidade, Conceição do Araguaia, sul do Pará, ser a cede dos jogos indígenas. O 3º jogos indígenas. Meu Deus, eu nem sabia que índio jogava. Meu Deus, eu nem sabia que ainda existia índio, além dos livros e imagens antigas da tv. Meu Deus estou emocionado, vou ver índio. Índio, índio mesmo, aqueles caras que os livros dizem ter sido os primeiros habitantes do Brasil. Que, quando os caras que descobriram o Brasil chegaram aqui encontraram eles (índios) curtindo água de coco e tudo mais e aí Pedro Álvares Cabral e sua turma sacanearam os coitados dando uns presentinhos bem do estilo 1,99 pra comprar a confiança e a amizade deles e botar os coitados pra trabalharem de graça e depois roubarem as terras deles. Sinto-me obrigado a dizer que essa relação entre eles era chamada de escambo (viva a professora Clara, de história, aprendi isso com ela).
Como será um índio???? Pele vermelha, as senhoras com seios avantajados e bem caídos, dependurados com um indiozinho mamando o tempo todo????? Será que é assim?
Ansioso, pergunto pra minha mãe que responde:
- Sei lá.
Como, sei lá? Esqueceu que mãe tem que ter todas as respostas? Mãe, antes de ter um filho tinha que comprar uma Barsa (encicoplédia) onde tivesse todas as respostas, pra nós filhos sermos poupados desse tal de “sei lá”.
Deixa pra lá. Preciso dar asas a minha imaginação, pelo menos até chegar o momento de ver tudo.
Chegou!!! Chegou o dia tão esperado. O estoque de fogos está sendo “explodido” na Praia das Gaivotas (conhecida como praia da Babi- veja meu antigo post). Tudo foi preparado. Arena para as competições, arquibancadas, banheiros, etc. (esse etc é sempre necessário para economizar palavras).
Está na hora. Estou ansioso, ansioso nããão, ansiosíssimo... Desesperado para ver um índio. Preciso ficar calmo, seguindo o conselho da minha mãe, que diz:
- Calma! (enquanto tira fotos de tudo e de todos. Ela é fotógrafa por prazer)
Estou na arquibancada. Vai começar! Vai começar! Cadê os índios?
O locutor está com a voz trêmula e tentando animar as pessoas da arquibancada, dizendo:
- Vamos pessoal, vamos aplaudir, vamos, força nas palmas...
Então, vi o desenho de um peixe bem “grandão” e o desafio dos índios era dar uma flechada no olho do peixe desenhado.
O Terú foi o primeiro. Terú, tremia as pernas mais que o perna longa (o desenho animado) e de tão nervoso, errou. Depois que quase me mijei de rir, caí na real e fiquei com dó do Teru. Claro que isso aconteceu depois que minha mãe e a Glória (nossa amiga), colocaram as duas mãos na cabeça e fechando os olhos gritaram: “Tadinho!”.
O locutor, disse logo:
- Ele errou por falta de aplauso, pessoal. Ele é muito bom nisso! Ele é o melhor, quer dizer, todos são os melhores! (acho que ele ficou com medo de levar uma flechada dos outros e por isso resolveu dizer que todos eram muito bons).
Mas, chegou o momento que achei o mais incrível, fantástico. Meu Deus! É a versão indígena da Xena, a princesa guerreira!!!!! Uma visão emocionante para meus olhos de 12 anos. Estou encantado com a beleza selvagem! Fiquei tão, tão, tão sei lá o que (não acho palavras para expressar minha emoção, se encontrar alguma até o final, escrevo, nem que seja lá no rodapé*).
A princesa guerreira indígena acertou as três tentativas de flechar o olho do peixe. Levou o público a loucura. Parecia um jogo de copa do mundo (não aquele Brasil e França, pensem em um de Brasil e Argentina e o Brasil ganhando de goleada é claro).
Bom, flecha vai, flecha vem, resolvemos dar uma volta pelo lado de fora da arena, porque eu ainda necessitava ver um índio de perto, bem de pertinho.
Depois de tanto andarmos pela praia chegamos ao acampamento dos índios; as cabanas feitas de palhas. Jesus Cristo, aqui tem índio mesmo! Homens, mulheres, crianças... E eram índios mesmo! Todos com seus trajes de índio.
Minha mãe disse logo:
- Oi, tudo bem? Posso tirar algumas fotos de vocês?
Gentilmente, foi atendida e os simpáticos nativos posaram para as fotos. Agradecemos e fomos visitar outras “tocas”.
Foi então que encontramos um índio que provavelmente não estava num bom dia. Estava sentado, meio triste, cara de bravo, com uma mulher do lado (uma índia a quem minha avó Anália chamaria de “feia sem defeito”). Quando o tal índio viu a máquina fotográfica da minha mãe disse:
- Foto só pagando. 5 real. Foto rouba saúde da gente!
Aí, minha disse.
- E os cinco reais são pra devolver a saúde?
E Ela, pra desabafar ainda ficou falando umas coisas em inglês do tipo: “I don’t understand, sorry” só faltou dizer para o índio, “vai te lascar, nativo infeliz” em inglês é claro. Ela não seria tão corajosa pra dizer isso no bom e velho português, muito menos no tupi guarani e não é só porque é muito educada.
A partir daí, fiquei preocupado com medo daquele índio dar uma flechada na minha mãe, por causa da resposta não muito simpática que Ela deu pra ele. Ficou muito claro que ele não gostou dela.
E, para fechar o dia glorioso e cheio de novidades, tive a mais maravilhosa de todas as visões, DANIELA. Embora o nome seja brasileiro comum, trata-se de uma índia de 14 anos linda, de olhos negros e inocentes como o seu sorriso. Tive que disfarçar meu evidente encantamento. Despedi-me de Daniela, mas levei comigo uma foto...

* Não encontrei uma palavra adequada.

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